Thursday, April 27, 2006

As novas galés!

Não faz muito tempo escrevi uma crônica sobre os aviões e as classes sociais. Os aviões são um dos lugares onde a diferença de classes sociais está mais claramente jogada na cara dos usuários. Não há disfarces, não há meias palavras, metáforas, subterfúgios, não há contemporizações, ou você é um Primeira Classe, Um Classe Executiva ou "ponha-se já no seu lugar!"

A humilhação começa no embarque - aliás, começa antes, nas salas de despacho e embarque vips! -, onde os passageiros das classes superiores tem a preferência, embarcam antes; e rumam para locais onde impera o luxo, o conforto, o atendimento, o menu diferenciado, etc. Não há quem ou como não sentir o peso do dinheiro, ou nesse caso, da falta dele, como para quem adentra um avião.

Pois agora estamos atingindo mais um patamar nos níveis de humilhação; não evoluímos, como seria de supor, para uma revolução que nos tornasse iguais à bordo de um avião, mas, suprema humilhação!, adotamos uma classe onde os passageiros vão viajar em pé. Isso mesmo que você ouviu! Coisa do tipo coletivo de transporte urbano, logo aquele "mais um passinho ao fundo do corredor, por favor", será ouvido insistentemente no interior dos aviões.

Nesse caminho logo chegaremos ao ponto final da crônica que escrevi há alguns anos atrás: muito em breve as turbinas dos aviões serão substituídas por remos. Adivinhe só quem vai remar?

Monday, April 17, 2006

Má literatura

Não sei se a palavra certa é curiosidade ou se é inveja; embora eu fique pensando: inveja do quê? Talvez do sucesso, embora eu saiba, conheça ou suponha que conheça muito bem o preço desse sucesso. A idéia, se não é nova, não deixa de ser boa - não em essência, mas no aspecto comercial -, nesse nosso Brasil que rima com varonil ou com infantil - rima mais apropriada para esse caso - onde qualquer assunto relacionado com alcova vende; e vende mais se misturado com revelações - com fofocas -, formando uma dupla explosiva: revelações da alcova.

Queria ter pego a entrevista com Bruna Surfistinha no programa do sábado de madrugada do Serginho Groismann. Só peguei o final, e se entendi bem, a entrevistada afirmava que contava com a fraca memória do povo, que contava que, com o passar do tempo, esquecessem dela e que assim poderia levar uma vida normal. Parece-me a afirmação de quem vende a alma ao diabo e depois não quer entregar; ou seja, é preciso pagar o preço do sucesso, seja ele qual for, ficar só com as benécies do sucesso todo mundo quer, mas não funciona.

Uma outra entrevistada presente no programa dizia justamente isso, que as pessoas não esquecem, ou se a maioria esquece sempre tem alguém que vai se lembrar e se encarregar de reviver o assunto. Fico com essa opinião, que acho mais realista, mais consoante com o que ocorre na vida real. De uma certa forma eu acho triste que isso se misture com literatura, que depois alguém possa dizer que leu um livro ao dizer que leu esse tipo de livro.

Com tantos tão bons livros no Brasil, ainda se gastam milhões em livros desse tipo, em livros de auto-ajuda, em livros psicografados; é, tudo isso é literatura...